TEMOS MUITO AINDA O QUE APRENDER… na escola, na família, na Igreja, na sociedade e na vida.
“Era uma região muito fria. Os homens eram muito pobres e não tinham meios para defender-se de uma temperatura que os matava. Um viajante passou pela região e teve muita pena. O viajante era muito sensível à dor e às pessoas que sofrem. E pensou muito tempo qual poderia ser a solução para aquele problema.
Depois de muita reflexão, acreditou ser possível uma saída. Aqueles homens poderiam se reunir à noite, quando o frio estivesse mais cruel e abrigarem-se todos junto a uma fogueira.
Fez uma primeira viagem. Ele mesmo levou a lenha para a grande fogueira. Explicou seu projeto para o povo da região.
Como não podia chegar ele mesmo no lugar onde se acenderia o fogo salvador, entregou a cada pessoa um pedaço de boa lenha, de acordo com suas forças.
Deixou as instruções necessárias e foi-se com a promessa de voltar cada dia com uma carga de lenha para a fogueira de cada noite.
O sol caiu rodando atrás do horizonte. O frio cavalgou sobre a brisa e começou a correr pela região. Os habitantes da região puseram-se lentamente em marcha para fazer, no lugar indicado, a fogueira da noite.
Chegaram. Formaram um grande círculo em torno do lugar indicado. Olhavam-se silenciosos uns aos outros. Cada um abraçava, entre suas roupas, um pedaço de lenha, como se fosse sua própria salvação. O chefe da região dirigiu-se ao centro do círculo e disse aos que estavam reunidos: “graças a bondade do viajante que nos visitou e compadeceu-se de todos nós, hoje dormiremos sem temor de morrermos de frio. Acenderemos uma grande fogueira com a lenha de cada um e dormiremos sobre a proteção de seu calor”. E foi sentar-se em seu lugar do círculo. Ele também apertava, entre suas roupas, um pedaço de lenha, como se fosse sua própria salvação.
Fez-se um enorme silêncio… Ninguém se moveu de seu próprio lugar…
Cada um apertou mais forte entre seus braços seu próprio pedaço de lenha. O frio era como chicote que cortava a pele. Todos começaram a tremer. Alguém disse ao de seu lado: “onde está a fogueira”?
O outro respondeu: “eu não vejo nada, nos enganaram”!
Um confuso murmúrio tomou conta das pessoas em volta. E continuaram esperando… tremendo de frio. As primeiras estrelas começaram a tremer no alto. Um murmúrio mais intenso tomou conta das pessoas em volta. Era de raiva e de protesto. Depois foram gritos, discussão e insultos.
E começaram a levantar-se e voltar para suas casas… Cada um levava, entre suas roupas, um pedaço de lenha. E o acariciava como se fosse sua própria salvação.
O frio congelou as vozes da região. O silêncio era como um bloco de gelo que apertava as árvores e as casas como uma luva de cristal. O sol anunciou a bondade de um novo dia. Seus primeiros raios foram rompendo o cerco do frio.
A aldeia despertou, mas dormiu em muitos que haviam morrido. E chegou novamente o viajante generoso. Vinha com sua carga de lenha. Os habitantes da região começaram a sair de suas casinhas precárias. Aproximaram-se do viajante amigo… Olhavam-no com olhos de raiva. E cada um apertava, entre suas roupas, um pedaço de lenha, como se acariciasse sua própria salvação…! O viajante amigo não compreendia.
Imediatamente gritaram juntos: “o senhor nos enganou. Fomos ao lugar indicado e não encontramos a fogueira. Perdemos muitos mortos de frio…”!
E o próprio homem compreendeu! Com muita calma, com voz potente, que deu medo aos habitantes da região, disse-lhes: “idiotas! Vocês são os responsáveis pelos que morreram de frio. Não lhes dei a lenha necessária para que todos se protegessem junto ao fogo? Mas vocês são tão maus e mesquinhos que cada um guardou seu pedaço de lenha. Não percebem que a grande fogueira só será feita se todos entregarem seu pedaço de lenha…”?
E o viajante amigo afastou-se amargurado. Os habitantes da região entreolharam-se… E voltaram para suas casas pensando…”
A fogueira impossível. (será?)*
*Fonte: Um texto de René Trossero, escritor argentino, autor de inúmeras fábulas e contos, nos faz refletir sobre a importância de compartilhar. O pouco que temos, o único. Devemos aprender a desprender-nos para descobrir que teremos muito mais entre todos nós.